sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Eloquente

Saí para pagar contas e encontrei uma tarde de sexta-feira com céu azul e Sol forte.

Passou por mim uma senhora de cabelos já grisalhos, dirigindo um fusca verde-oliva totalmente conservado, sorrindo como se estivesse guiando o carro pela primeira vez. Segui pela parelala da minha rua até chegar na Av. Rep. Argentina. Mais nenhuma árvore para proteger-nos do Sol, os ônibus bi-articulados passando rapidamente em suas canaletas, levando centenas de pessoas para o Santa Cândida, ou para o sul da cidade. Ao chegar na agência lotérica, de imediato notei algo estranho. Todas as pessoas estavam falando alto, alto demais. Elas não falavam sem parar, mas quando abriam a boca pareciam não conseguir controlar a voz. Os atendentes eram os que mais distoavam, mesmo sem real necessidade, já que a divisória de vidro não chegava a atrapalhar a comunicação. Era possível ouvir o mais discreto barulho que surgia lá dentro, como o contar de cédulas, mas de qualquer forma os três atendentes falavam de forma tão eloquente que parecia forçado. As pessoas permaneciam quietas até chegar a vez de serem atendidas, aí começavam a falar como se um barulho insurdecedor tomasse o ambiente, algo como a explosão de uma bomba. Aquilo não fazia o menor sentido. Uma senhora de cabelos tingidos e roupa barata discutia com uma das atendentes:

- Eu falei para você esperar um minuto!
- Eu estou esperando senhora, tá vendo?
- Então espere! Deixe eu fazer a minha aposta!

Até agora não entendi porque todos berravam daquele jeito. Quando pisei na calçada, saindo da lotérica, senti uma diferença nítida no volume, exatamente como se alguém estivesse mexendo nas caixas de som.

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